Da vez primeira em que falei com Stephane o mundo era o que eu tinha nos ombros e logo caiu-me o universo inteiro e passei dias a fio imerso na fome insaciável dos mais profundos buracos negros, até que eles se cansaram de mim. Ela me deu um olhar vermelho de ódio que eram o belo mais opressivo como tal jamais tornei a ver e o peito que, já cego, sentia pena dos ombros pesarosos, invejava os olhos diante de tal colosso. E eu, que já nada sabia da vida, nada sabia de nada diante de tanta complexidade. Tinha, ainda por cima, meus sentidos divididos, um mais glorioso que o outro, e todos sem importância alguma.
Mas da primeira vez que ela me escreveu, aí então que o mundo me sorriu, os céus me abraçaram ternamente e era tudo consolo e alegria. Arcanjos e serafins me aplaudiam de pé e novas galaxias explodiram em nossa homenagem. A amizade mais linda como nunca houve e rogue o futuro aos céus para que haja um dia, novamente. Era um prazer estar com ela e apesar dos pesares era eu, naquela época o ser mais feliz do mundo e o continuei a ser em anos futuros nos quais bastava a certeza de vê-la a cada dia para florescer-me um sorriso, e a tristeza, minha grande amiga de longas datas, vir e me dizer que me admirava a alegria e a pureza com a qual corria ao encontro daquela amiga que fez-me melhor as manhãs enquanto as flores curvavam-se a mim radiante que eu era. Um amor puro... puríssimo.
Quando me afastei de Stephane a vida perdeu a graça, não tinha mais norte e a vida, inútil invenção de algum deus cruel que conspirava contra mim e talvez se risse ao ver-me cabisbaixo como um girassol sem sol, mas eu não era só isso, era pior. A vida, quem antes me apertava a mão, abraçava-me e dizia-me amigo, cuspia-me a face e meu semblante era murcho. Eu era xoxo e vivia com algo a mais que simples tristeza, uma esperança doentia que me fazia correr os olhos dia-após-dia nos e-mails e recados do Orkut na esperança descabida de ter um olá se quer, uma resposta simples a recados anteriores, qualquer coisa nova desde que dela para que eu pudesse ler e reler a exaustão, recitar no chuveiro cada palavra como um poema do Vinícius. Mas não, ao ver suas fotografias, sua felicidade de sempre e toda aquela luz um vento macio me bate a face e segue a dizer: “Vai viver, só as lembranças te bastam.” E eu vivo. Ah! A primeira vez em que vi Stephane.
Iran Maia
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