A Frase

“A demência nunca nos abandona, devemos sempre controlá-la mas não podemos negá-la.”
Leonardo Boff


Outro dia estava pensando na frase da marca de cerveja Nova Schin e imaginando quem seria seu autor. Uma frase simples: “Nova Schin, ou seja, cerveja!” O que será que o autor dessa frase está fazendo agora?

Fiquei imaginando que seu autor deve ser mais um desses brasileiros com nome estrangeiro, tipo Marcos Bradbury, se é que é assim que ele se chama. Mas eu decidi chamá-lo assim.

Com certeza era a promoção da sua vida. A empresa estava precisando de um slogan e bastaram apenas alguns minutos pensando e lhe ocorreu a frase genial. Agora seus amigos diziam:
- Parabéns, Marcos, quem sabe não consegue um aumento?
- É isso aí, tá ficando importante.
E ele só dizia:
- Ou seja, cerveja!

Não sabia dizer mais nada. Estava preso por uma inércia de reação subta. Saiu da empresa naquele dia, com um olhar vago, como se estivesse perdido no universo e vez em quando repetia com um sorriso nas orelhas:
- Ou seja, cerveja!

Entrou no carro e dirigiu com tanta falta de atenção que conseguiu atropelar um gato, cinco cachorros e duas velhinhas. Chegou em casa. Encontrou, a esposa toda feliz com o ocorrido, mas nem ligou, foi direto para o escritório. Sentou-se em sua cadeira confortável e pediu vinho. Mesmo olhar vago. Mesma repetição de frase. Deu um suspiro tão profundo que baixou o nível de poluição e oxigênio da cidade.

Cinco dias depois e o pessoal da empresa estava ligando.
- Brad, parabéns. Sua frase será cantada por Ivete Sangalo, mas você precisa trabalhar. Se não voltar será despedido. Não podemos pagar a um trabalhador inexistente.

Mas Bradbury não quer saber de nada. Há dias não levanta daquela cadeira e vez em quando dá suspiros tão fortes que dois vizinhos já foram internados por falta de ar. Agora ele só quer saber de queijo,vinho e da frase maravilhosa.
- Marcos, amor, você tem que trabalhar ou então não podemos pagar as contas – reclama a mulher tentando convencê-lo.

Ele olha com um olhar vago e volta a bebericar o vinho.
- Bradbury, se você voltar a empresa lhe dá um aumento. É uma grande chance! – avisam os amigos da empresa.

Dois meses depois e ele continua se alimentando de queijos e vinhos das empresas que ainda lhe dão crédito. Sua esposa pediu o divórcio, ele apenas assinou da sua cadeira confortável ainda com a mesma inércia de reação.

Ainda tem uma faxineira que vai a cada quinze dias lavar os pratos e as taças que ele sujou com queijo e vinho porque não suja mais nada. Toma um banho por semana e volta pra sua cadeira sempre sorrindo, olhar vago a dizer:
- Ou seja, cerveja!
A faxineira ainda olha e diz com pena:
- Coitado do senhor Bradbury, era um homem tão bom!


Iran Maia

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