Da vez primeira em que vi Stephane

Da vez primeira em que vi Stephane, era apenas uma criança (ambos). Um anjo o que era (ela apenas, receio que nunca fui um ser angelical). Tinha uns olhos de qualquer coisa que encante um deus ou um menino, que torne um homem livre no mais doce serviçal e Alexandre é nada, minusculo em toda sua glória. Tinha um sorriso magnético, enigmático que me fazia voltar a cabeça sempre em sua direção a ponto de seus olhos cegarem-me o peito. Era um sonho e me confundia a realidade daquela fantasia em que me prendia a cada dia, uma deusa distante, era como tentar tocar a lua.

Da vez primeira em que falei com Stephane o mundo era o que eu tinha nos ombros e logo caiu-me o universo inteiro e passei dias a fio imerso na fome insaciável dos mais profundos buracos negros, até que eles se cansaram de mim. Ela me deu um olhar vermelho de ódio que eram o belo mais opressivo como tal jamais tornei a ver e o peito que, já cego, sentia pena dos ombros pesarosos, invejava os olhos diante de tal colosso. E eu, que já nada sabia da vida, nada sabia de nada diante de tanta complexidade. Tinha, ainda por cima, meus sentidos divididos, um mais glorioso que o outro, e todos sem importância alguma.

Mas da primeira vez que ela me escreveu, aí então que o mundo me sorriu, os céus me abraçaram ternamente e era tudo consolo e alegria. Arcanjos e serafins me aplaudiam de pé e novas galaxias explodiram em nossa homenagem. A amizade mais linda como nunca houve e rogue o futuro aos céus para que haja um dia, novamente. Era um prazer estar com ela e apesar dos pesares era eu, naquela época o ser mais feliz do mundo e o continuei a ser em anos futuros nos quais bastava a certeza de vê-la a cada dia para florescer-me um sorriso, e a tristeza, minha grande amiga de longas datas, vir e me dizer que me admirava a alegria e a pureza com a qual corria ao encontro daquela amiga que fez-me melhor as manhãs enquanto as flores curvavam-se a mim radiante que eu era. Um amor puro... puríssimo.

Quando me afastei de Stephane a vida perdeu a graça, não tinha mais norte e a vida, inútil invenção de algum deus cruel que conspirava contra mim e talvez se risse ao ver-me cabisbaixo como um girassol sem sol, mas eu não era só isso, era pior. A vida, quem antes me apertava a mão, abraçava-me e dizia-me amigo, cuspia-me a face e meu semblante era murcho. Eu era xoxo e vivia com algo a mais que simples tristeza, uma esperança doentia que me fazia correr os olhos dia-após-dia nos e-mails e recados do Orkut na esperança descabida de ter um olá se quer, uma resposta simples a recados anteriores, qualquer coisa nova desde que dela para que eu pudesse ler e reler a exaustão, recitar no chuveiro cada palavra como um poema do Vinícius. Mas não, ao ver suas fotografias, sua felicidade de sempre e toda aquela luz um vento macio me bate a face e segue a dizer: “Vai viver, só as lembranças te bastam.” E eu vivo. Ah! A primeira vez em que vi Stephane.


Iran Maia

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